S.P., 28/01/2021
Sabemos de fato que existe um estigma ainda hoje, se alguém apresentar um desconforto psíquico, seja ele de caráter simplesmente emocional, ou principalmente um psicodiagnóstico determinado pela CID10.
Veja a descrição do significado da palavra estigma pelo site da infopédia.pt/dicionarios/lingua-portuguesa/estigmas :
estigma
marca deixada por uma ferida; cicatriz
marca infamante feita com ferro em brasa, aplicada antigamente a escravos e criminosos; ferrete
mancha ou sinal cutâneo
MEDICINA sinal persistente e característico de uma dada doença
figurado sinal vergonhoso
figurado desonra, labéu
figurado perceção negativa associada a certo comportamento, característica, grupo, etc.
BOTÂNICA parte do carpelo das angiospérmicas onde cai e germina o grânulo de pólen
ZOOLOGIA abertura no tegumento dos artrópodes que respiram por traquéias e que põe estas em comunicação com o exterior
RELIGIÃO [mais usado no plural] feridas nas mãos, no peito e nos pés de alguns santos católicos, tidas como simbólicas da participação das suas almas na paixão de Cristo pela similitude com as cinco chagas de Jesus crucificado.)
Continuando…
Por exemplo, esquizofrenia, depressão, algum dos transtornos de ansiedade, e claro, aquele transtorno que lhe impede de produzir em seu ambiente de trabalho. Sofrer, desde sempre, vem sendo um estigma, em âmbito físico, e mais ainda se relacionado a doenças mentais.
Qualquer pessoa pode apresentar uma vez, ou até mesmo mais de uma vez, um diagnóstico que possa se enquadrar nos ditames da CID 10 ( que em breve, em janeiro de 2022, entrará em vigor a CID 11).
A CID 10, é o livro que engloba a Classificação de Transtornos Mentais e de Comportamento, publicado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) e através de uma categoria determina quais são os diagnósticos de um indivíduo. Esse código é utilizado para encaminhamentos de pacientes, entre médicos, psicólogos e outros profissionais da saúde.
Isso significa que qualquer indivíduo pode se enquadrar em psicodiagnósticos.
Porque lhe afirmo isso, se você acompanhar meu raciocínio, concordará comigo. No ano de 2020 e sequencialmente em 2021, devido a pandemia, você não sentiu medo de morrer? Você não sentiu medo de perder alguém importante em sua vida? Sentiu angústia e ansiedade? Seja por insegurança, por não poder trabalhar ou não ter um resultado financeiro para poder sustentar a si e sua família? Ou perceber que sua vida estava paralisada sem ter esperanças em consolidar seus sonhos, desejos e objetivos? Se computarmos o número de vezes em que se afligiu, foram quantos dias, meses, …? Dependendo desse prazo já configura um psicodiagnóstico.
E ainda mais doloroso, se de fato, perdeu alguém em sua vida, seja em decorrência da covid-19, ou pelo fato de estar insuportável viver nos dias de hoje, e daí qualquer desfecho acontece. E digo mais, os desfechos trágicos, ocorrem pelo sofrimento emocional e psíquico que são insuportáveis de aguentar. Qualquer pessoa pode passar por isso.
Você já se sentiu muito ansioso a ponto de quase não suportar? Provavelmente teve sintomas como: diarréias, tonturas, dor de cabeça, dor de estômago e apenas pensou que fosse algum desconforto gástrico. Pois então, você pode ter tido uma crise de ansiedade e nem imaginou!
O mundo em que vivemos espera que executemos competentemente resultados adequados. E vamos levando, e mais, muitas vezes damos sim nosso melhor. Estica daqui e puxa dali, e conseguimos. Sim, temos um bom prognóstico, por isso subestimamos nosso sofrimento. Afinal damos conta! E aqui começa o nosso problema. Podemos dar conta hoje, amanhã, e será que depois não psicossomatizaremos um infarto, um AVC, uma diabetes, quadro de pressão alta, problemas de pele, transtornos gástricos e intestinais e muito mais…ou mesmo um surto ou crise emocional?
Pois não se iluda, ao somatizarmos estamos convertendo os nossos problemas mentais e emocionais em sintomas e doenças físicas.
Ninguém está imune aos sofrimentos que a vida nos surpreende. E não são poucos…
Enfim, rotular, discriminar, não dar suporte, não orientar, afastar a quem possui um sofrimento e é diagnosticado com alguma doença mental, isso é estigma!
É supor que alguma pessoa que se despedaçou emocionalmente, seja rotulada de incapaz, incompetente, sem inteligência, ou improdutiva.
Isto é um equívoco.
Somos iguais, precisamos uns dos outros, e abaixo qualquer estigma!
Mas é para isso que as saúdes públicas, e particulares devem entrar em ação para se organizarem e assim minimizar o sofrimento humano.
São Psicólogos, Médicos, Assistentes Sociais, Enfermeiros, e profissionais afins que precisam ter o amparo governamental, para suprir as necessidades dos cidadãos que recorrem. É imprescindível a atuação do governo, proporcionando recursos e amparo, para executar ações exitosas. É necessário recursos financeiros para todos, pois é o sistema em que vivemos, certo?
E a ironia é: quem gasta para atender nosso sofrimento? O governo, o SUS, o CAPS, o Pronto Socorro estadual e municipal, e no mínimo, se o indivíduo tem recursos para arcar, seria pelo convênio de saúde particular.
Podemos lembrar da época que eram utilizados eletrochoques, duchas de água fria, solitária, e medicamentos alienantes, e/ou, algo mais “criativo” e violento, em manicômios na norma antiga, para “domar” as pessoas que atrapalhavam o seu meio social por variadas justificativas esdrúxulas.
Antigamente era comum encontrar manicômios, um lugar também utilizado para depósito de vidas humanas.. Por exemplo, um filho que não queria seguir com o legado de continuar sustentando a família como os pais faziam, no negócio ou empresa familiar, era entendido como “louco”, e internado e medicado; a esposa que não era mais desejada pelo marido; parentes que apresentavam alguma deficiência, transtorno ou distúrbio como autismo, dislexia, entre outras razões.
Ainda hoje existe o hospital psiquiátrico. E há uma luta antimanicomial e uma defesa à reforma psiquiátrica com objetivo de oferecer o melhor tratamento.
Para esclarecer: quem possui um diagnóstico que no passado era entendido como alienante, pode ter uma vida social e profissional produtiva atualmente, se receber o tratamento adequado com psicoterapia, medicação e o respeito que lhe é devido, e assim, conseguir sua autonomia. Apenas as morbidades que impossibilitam a independência necessitam de cuidados mais estreitos.
Retornar à realidade anterior dos manicômios e hospitais psiquiátricos em regras antigas, é um retrocesso à saúde, dignidade e respeito humanos.
As normas dos Direitos Humanos foram elaboradas para se considerar o melhor viver possível do ser humano em grupo, e com isso ter a proteção de órgãos públicos, sugerindo uma norma de conduta em sociedade. Verifique todos os artigos em DUDH ( Declaração Universal dos Direitos Humanos ). ¹
Levar adiante algum preconceito que outrora existiu, faz a sociedade ser incapaz de evoluir, aprender, melhorar e qualificar o nosso viver de modo sustentável, digno, construtivo e produtivo e o resultado é insalubre.
¹ Artigo 25 da Declaração Universal dos Direitos Humanos: “Toda pessoa tem direito a um nível de vida suficiente para lhe assegurar e à sua família a saúde e o bem-estar, principalmente quanto à alimentação, ao vestuário, ao alojamento, à assistência médica e ainda quanto aos serviços sociais necessários. E tem direito à segurança no desemprego, na doença, na invalidez, na viuvez, na velhice ou noutros casos de perda de meios de subsistência por circunstâncias independentes da sua vontade”.“A maternidade e a infância têm direito à ajuda e assistência especiais. Todas as crianças, nascidas dentro ou fora do matrimônio, gozam da mesma proteção social.”